Vestida com jeans, camiseta preta estampada e rasteirinha, Gabriela
Amaral dos Santos ainda está longe do efeito visual que lhe rendeu os
títulos de “Beyoncé do Pará” e "diva do tecnobrega". São 16h30 da
sexta-feira (13), e Gaby se prepara para uma entrevista no talk show
“Roberto Justus +”, da TV Record.
No camarim da emissora, a paraense troca as roupas do dia a dia por um
figurino mais "montado", o primeiro que apresentará no programa. A troca
inclui uma jaqueta de couro preta com mangas rendadas, calça legging
com glitter dourado e salto 15, que ela leva na mão e só calça quando
está a alguns passos do palco. “Nunca estive tão básica”, diz para o
apresentador.
Um dos principais nomes da nova música eletrônica paraense, o
tecnobrega, Gaby conta que não se incomoda com o tom pejorativo que o
termo brega pode ter. “O brega tem um novo significado, que o Brasil
está começando a entender e gostar”. Sobre o figurino, acrescenta: “eu
adoro ser 'over [exagerada]', o Brasil é 'over'”. A cantora, que chegou a
São Paulo tocando primeiro em baladas moderninhas, agora está feliz por
ter sucessos como "Xirley" na boca do povo e "Ex My Love" como trilha
sonora de abertura da novela das 19h, "Cheias de Charme", da TV Globo.
A paraense de 34 anos justifica o sucesso dizendo que aplica o que
aprendeu vivendo na periferia de Jurunas. “A classe C não tem vergonha
de aparecer bêbada, de dar vexame, do que pode parecer, de ser quem é”,
afirma. E é apoiada no mesmo despudor que Gaby explica para Justus que o
“xarque” - versão adaptada da palavra "charque" - que aparece no
videoclipe da música “Xirley” é uma gíria para vagina, no Pará.
Entre suas influências, Gaby cita Clara Nunes e Ney Matogrosso. “O
Brasil precisa de artistas com mais ousadia”, provoca. “Música
brasileira no geral me inspira muito. No Pará, estamos perto dos
trópicos, dos ritmos caribenhos, das lambadas, das cumbias, dos
merengues. Fazer música eletrônica na Amazônia é algo que ninguém
imaginava, é um novo pop”, diz.
A cantora faz uma pausa e promete voltar ao palco para mostrar ao
apresentador o seu visual de show, famoso pela extravagância e uso de
luzes LEDs. De volta ao camarim, dois maquiadores dão conta de montar o
cabelo e a maquiagem de Gaby, que é produzida em 40 minutos para o
programa, mas que para um show demora de três a quatro horas. “Gosto de
caprichar”, justifica.
O Brasil precisa de artistas com mais ousadia.
Nos bastidores, ela faz aquecimentos vocais que parecem arranhar sua
garganta. “Esse aquecimento é muito usado no heavy metal. Vim fazendo no
táxi uma vez e o taxista ficou um pouco assustado”, conta entre risos.
Agora, Gaby veste um macacão roxo de vinil, colado ao corpo e decotado,
com uma alça bufante e um acessório no cabelo. A produtora da Record
entra e pergunta se a roupa tem as famosas luzes e fibras ópticas, que
Gaby está terminando de instalar. Vestir o acessório final exige que
seja presa uma bateria e um emaranhado de fios nas costas . “Me sinto
como um robô, tem fios passando por todos os lados”, diz.
De volta ao palco, Justus elogia o figurino e ela diz que se sente à
vontade “com toda a parafernália”. Por causa do excesso de fios, a
bateria e o aparelho do microfone falham e um assistente de palco
interrompe a gravação para arrumar os equipamentos nas costas da
cantora.
Mais tarde, nos bastidores, quando fala sobre seu único o filho, de
três anos, o jeito terno se manifesta e os olhos brilham. “Hoje ele me
ligou para dizer o que tinha almoçado. Morro de saudades. Mas como é
minha mãe quem cuida dele no prédio que mora toda a família, viajo muito
tranquila.”
Gaby conta que tirará curtas férias e vai iniciar a turnê pelo Brasil
no dia 1º de maio, três dias após o lançamento de “Treme”, seu primeiro
álbum lançado por gravadora. Ela também planeja shows nos Estados Unidos
e na Europa no segundo semestre e diz que a demanda veio por conta de
publicações de veículos internacionais, como o jornal inglês
“The Guardian”, que a indicou como sugestão do dia em fevereiro.
A partifcipação de Gaby foi encerrada com Justus tirando-a para dançar a
música tema da novela, que também vai ganhar clipe, em formato de
fotonovela. "A gente vai usar recursos que vocês nunca viram, é o máximo
que posso contar", faz suspense.
Já são quase 20h e Gaby ainda se prepara para uma sessão de fotos no
Copan. Com maquiagem mais leve, sem lentes e de volta ao jeans e
camiseta, com boina de oncinha, passa pelos bastidores quase
despercebida em direção a van. Enquanto isso, no cenário ao lado,
funcionários desmontam o palco cantarolando: “Ex my love, uuuuu....”