O medo de sair de casa tem se tornado rotina entre as mulheres das
comunidades de Areia Branca, Ferreira Pena e Mocambo, no município de
Santa Izabel, distante 48 km de Belém. Nas três últimas semanas, um
foragido do presídio de Americano vem provocando pânico na região. O
maníaco, identificado como Luiz Carlos Souza Silva, 26 anos, vulgo
“Caíto”, é acusado pelos moradores de área de ter violentado, pelo
menos, 17 mulheres na área. “Esse número pode ser muito maior, porque
infelizmente tem muita mulher que prefere não denunciar o caso. Aqui na
comunidade do Mocambo, o que a gente tem conhecimento, até agora, é que
duas mulheres já foram vítimas dele. Uma conseguiu escapar porque gritou
por socorro e a outra não teve a mesma sorte e acabou sofrendo os
abusos do monstro”, explicou Erinaldo Cruz, 28 anos, líder comunitário
da Vila do Mocambo, a 4 Km da sede do município.
Segundo Erinaldo, desde que começaram os primeiros relatos sobre os
ataques do maníaco, os moradores da comunidade mudaram sua rotina. “O
medo de serem as próximas vítimas fez com que as mulheres deixassem de
caminhar sozinhas pela área. Tem mulher que não está nem saindo de casa
por causa das ameaças. A comunidade tem vivido em constante estado de
medo”, alerta o líder comunitário.
Segundo os moradores, o maníaco tem familiares no entorno das
comunidades e conhece todo o matagal e os ramais da área, o que facilita
a permanência dele no local. “Tem muita gente aqui que avistava esse
bandido antes de esses crimes acontecerem. Eu mesmo já o vi, semanas
atrás, bebendo cerveja num bar próximo daqui. O fato de ele ser
‘mateiro’ e conhecer toda a área faz com que ele cometa os abusos com as
mulheres das comunidades e saia numa boa, sem que ninguém descubra seu
paradeiro”, revelou o mototaxista Luis Carlos, 43 anos, morador da
comunidade.
Vítima do maníaco no início do mês de maio, uma dona de casa, de 34
anos, que prefere não se identificar, relembra com detalhes o dia em que
foi violentada. “Era por volta das 4h da tarde. Eu tinha acabado de
atravessar a estrada (rodovia BR-316) para seguir no ramal em direção à
minha casa. Como era acostumada a fazer esse percurso todo dia, não
imaginava que isso fosse acontecer, até porque da pista até a minha casa
não é tão longe assim”, contou.
A lembrança dos momentos vividos sob a ameaça do foragido faz a dona
de casa chorar. Mesmo visivelmente abalada e com as mãos tremendo,
devido ao pânico com que ficou após o crime, ela continua contando. “Foi
tudo muito rápido, ele apareceu do nada, atrás de mim, foi colocando a
mão na minha boca e me empurrando à força para dentro do mato. Foi
horrível. Eu dizia para ele me deixar ir embora, mas cada vez que eu
clamava pela minha vida ele me levava mais para dentro da mata. Com
muita frieza, ele fumou um cigarro, que eu acho que era maconha, e
começou a abusar de mim. Foram duas vezes. Na segunda, eu pensei que ele
ia me matar”, relembra a mulher, moradora da Vila do Mocambo.
Segundo a dona de casa, os abusos só terminaram porque, após sentir
falta dela, a família procurou ajuda da polícia e começou a fazer buscas
na área. “Eu ainda estava nas garras dele quando nós vimos umas luzes
de lanterna da polícia perto do local. E com isso ele saiu correndo, me
deixando num estado de completa humilhação”, conta a vítima.
A situação foi vivida por cerca de dez mulheres da Vila de Areia
Branca, que, sob o estado de pânico, evitam comentar o caso. Segundo os
moradores, a comunidade é a que apresentou o maior número de casos até
agora. “A minha irmã já foi vítima e por pouco ele não abusa da minha
mãe, que conseguiu fugir. Esse homem é um monstro, não dispensa nenhum
tipo de mulher. Tanto que nós soubemos que ele já violentou a própria
filha, de apenas três anos. É terrível a sensação que as crianças e as
mulheres dessas três comunidades estão vivendo. A qualquer hora,
qualquer uma aqui pode ser a próxima”, denuncia a dona de casa Altamira
Pereira, 28 anos.
Polícia afirma que vem agindo na área
Segundo o
delegado Carlos Magalhães, diretor da Seccional de Santa Izabel, a
polícia tem realizado um trabalho intensivo na busca do maníaco, que já
possui um mandado de prisão preventiva expedido pela Justiça. “A nossa
equipe tem agido dia e noite no entorno das três comunidades rurais, mas
o fato de o criminoso conhecer muito bem a área tem sido a nossa maior
dificuldade. Muitas vezes, recebemos denúncias de que viram ele em tal
lugar, mas, quando chegamos ao local, não encontramos nem rastros”,
afirma Magalhães.
Ainda segundo o delegado, outro obstáculo da polícia é a ajuda que o
maníaco vem recebendo de familiares que residem nas comunidades. “Uma
coisa é certa, o criminoso está recebendo o apoio da família dele, que,
inclusive, vem acobertando algumas denúncias que recebemos. Se ele
estivesse agindo sozinho, sem a ajuda de ninguém, ele não ia conseguir
ficar escondido tanto tempo no mato”, declarou o diretor da seccional.
Cartazes com a foto do maníaco foram divulgados em vários pontos do
município e nas redes sociais da internet. Luiz Carlos Souza é foragido
do Complexo Penitenciário de Americano, onde cumpria a pena pelo crime
de estupro de vulnerável.
(Diário do Pará)